quarta-feira, outubro 19, 2005

Meu Deus: agora que perdi a fé prometi-te caminhar dois mil dias no deserto.



Visitar o local sagrado da tua iluminação. Arder sob o sol onde entregaste o teu amor. Caminhar descalça, abandonar as sandálias rotas, o último traje, a última gota de água. Mirar as chagas e o último rosto da noite. Mirá-las até ao mais profundo esquecimento. Olvidar as brisas e marés e que a noite foi nossa irmã. Dar-te os olhos, os lábios e os cabelos, testemunhas dos aromas sulcados ao teu passo. Queimar-me como incenso nesta necessidade imensa de caminhar em desvario. Nesta necessidade de ser gente sobre os seus passos. Esta necessidade matinal e perfumada de amar com vastidão. Prometi descoser as mãos do seu ofício. Talhar na carne a hora da minha perda.

Meu Deus: agora que perdi a fé o meu amor, de novo, arde.