quarta-feira, junho 30, 2004

¿Qué es poesía? --dices mientras clavas
en mi pupila tu pupila azul.
¿Qué es poesía? ¿Y tú me lo preguntas?
Poesía... eres tú.

Gustavo Adolfo Bécquer 1836-1870

Los Mareados

Rara,
como encendida, te hallé bebiendo
linda y fatal.
Bebías,
y en el fragor del champán loca reías,
por no llorar.
Pena me dio encontrarte, pues al mirarte
yo vi brillar
tus ojos,
con ese eléctrico ardor, tus negros ojos
que tanto adoré.

Esta noche, amiga mía,
el alcohol nos ha embriagado...
!Qué me importa que se rían
y nos llamem los "mareados"!
Cada qual tiene sus penas
y nosotros las tenemos.
Esta noche beberemos,
porque ya no volveremos
a vernos más.

Hoy vas a entrar en mi pasado,
en el pasado de mi vida...
tres cosas lleva mi alma herida:
amor, pesar, dolor...
Hoy vas a entrar en mi pasado,
hoy nuevas sendas tomaremos.
!Que grande ha sido nuestro amor,
y sin embargo, ay, miralo que quedó!


Enrique Cadicamo y Juan Carlos Cobian

sábado, junho 26, 2004

Incêndios

Temor
na minha mão ardente...

A que insubmissa e muda palavra
te recusas?

Que voz é essa que escreves e te engole
no silêncio?

Que abismo fundo e tosco esculpes
no teu vagar?


Ardendo,
Ardendo,
Ardendo
só fogo
só labareda
só cinza
resta da minha alma.

Gabriella Marenzio

Palavras

Uma palavra
persegue
a ponta da caneta
faminta
da sua expressão
do seu corpo rígido
que imprime
nessa folha alva
e limpa,
o absorto rosto da solidão.


Gabriella Marenzio

Delito

Carne de delito


Robusta rosácea marmorizada
no infinito do tempo

que nos concedemos.


Assim te queria,
expandindo a tua humanidade
sobre mim.


É tarde.
Entre nós reina a névoa sepulcral
de um dia distante.

O brilho mudo vivificado
nos teus lábios entrecortados
por algo sonóro e cheiroso.

A auróra aproxima-se em turbilhão.

Os teus dedos recolhem-se
e rumam ao dia.


Á sombra dessa amendoeira
prenhe do florido calor primaveril
nascem as sombras
da primeira manhã.

Gabriella Marenzio

Requiem por un nado morto

roxinho, roxinho
na sua mantinha de lã
ele enrolava-se ao ferro frio
girino lindo gerado
de amor

roxinho, branquinho
na pura inocência
da sua casaquita sangrenta
na cama cinzenta
no impulso que não
o chega o chega a ser.

Germe de dor
que roxamente
se estende no
sangue que por todo
o corpo flui.
O que não é
é sabido
e nunca será.

No frio ferro
da não vontade,
no gelo que
habita a ponta dos dedos,
na expressão nula
lindo! Menino! Amor da mamã
Meu menino!
que nunca chega a ser.


Gabriella Marenzio

Imagem

Tu és para mim uma imagem



Imagem granitica
perfeita.
Tumulo insondável
dos desejos
que não ouso...

Imagem distante
fumo
névoa profanada
Chama interina
retrato benévolo da natureza.


Tu,
para mim és uma imagem.

Gabriella Marenzio

Serenidade

A minha alma
na ponta
é serena.


No centro
inflama-se,
num inferno de pássaros
invertebrados,
sem asas.

Sentimentos
que me pensam e são
até aos olhos
e me rasgam os lábios
em tímidos coagulos verbais.

Um manto de retalhos orgânicos
cobre-me
a ponta mais fria
da alma.

À insípida luz
do olho terreno
a névoa torna-se rainha
de vastos impérios
cromáticos.

( E então vejo-te)


E vejo-te
a mão calejada
na nuca ( quente e macia
do teu intenso estio cerebral)

Se levantares a cabeça
verei como o mundo se estende
para além da tua boca.


Em ti a alba ergue-se
plena
sobre o marítimo fervor.


Se me deixareres entrar
confirmarei a doce textura
de que és feito.
Artérias e veias
pulsando esse cálido licor
que te torna
vivo.
E subirei ao cimo
do ti
na ponta mais fina
da minha bailarina.
Rodopiando cérebro adentro
etérea dança
e de pensamento em pensamento
saber-te-ei por inteiro.

E viverei em ti
de dentro para fora.


Em troca prometerás
reservar o escárnio
ao ver-me como sou
absurda e pequena

é que a minha alma
na ponta, é serena
mas no centro...

sexta-feira, junho 25, 2004

Estação

Estou na estação. Num ir e vir perpétuo.
Um eterno retorno, finito, limitado,
quotidiano.

Disforme, deslizo por entre os líquidos relógios
em que a memória persiste.
A realidade escorre por onde
o meu pé se pousa,
estica-se e molda-se
nesta realidade aquosa,
vital.

Um ruído. Sombras vagas.
Um incómodo fino,
acutilante, imenso:
eis a realidade.

Separa-nos uma grande névoa.
E, sem que ela exista,
infiltra-se ocasionalmente
olhos adentro.
Cinza,
como um cimento aéreo
que se trespassa e respira.
Cinza húmida.
Névoa fria,
como a eterna manhã
da solidão humana.

E a memória persiste
escorrendo, sugando o tempo.

Tempo passado,
o tempo da rejeição.
Tempo que retiro,
Tempo presente.
Tempo impossível,
Tempo futuro.

Tempo que mato
assim.

O Tempo em que a ausência
de mim em mim
ultrapassa toda a consiência,
todo o cosmos intemporal ritmado,
O sempiterno pulsar compassado
das esferas harmonizadas.


O ruído aumenta:
o universo expande ou
retrai-se?
quem sabe onde vamos
rodopiando tempo fora...

E no entanto,
só esta estação de comboios parece ser real,
local de um retorno quase eterno.
De devir quotidiano
com hora marcada.

Chega o comboio.


Por Gabriella Marenzio,
Estaçao de comboios dia 6 de Novembro de 1998





Vermelho

O vermelho obsceno da tua língua mordaz
é de uma cor diferente.

Esse vermelho com que me pinto
solitária e despida
em mental invernia
Cor que troveja
iluminando a mente em ruínas.

Se pudesse viver de cores...
viveria desse e nesse
teu vermelho.

O céu
língua flamejante
de textura suave e doce
as nuvens.
Aí dormiria
incandescendo
até que a pele
vermelharia
palidamente
até esmorecer.

E, de súbito,
quero arrancar-te essa língua
que de amor me inflama
até á mais rígida dor.
Essa língua que beija e
mente,
ver-lhe o sangue azulado de
tanto morder.
Beber
esse alcool sanguínio
que te alimenta.
Embriagar-me com ele
de dor, amor
prazer



Por Gabriella Marenzio


Sobe
á garganta rectada
este canto sanguínio
e pulsante de vida.

Conto de alma oblíqua

Muda a cor,
o silêncio.
Esse profano silêncio
Eco profundo
abismo perdido
profanado e cego.

É cego o luminoso olho
que não vê nesse canto
o som único do seu mundo.

Gabriella Marenzio
1998

Arte de Amar

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.


Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.


Porque os corpos se entendem, mas as almas não.


Manuel Bandeira

A Morte Absoluta


A morte absoluta


Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.


Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão - felizes! - num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.


Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?


Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.


Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."


Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome.


Manuel Bandeira

Belo belo

Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.


Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo — que foi? passou — de tantas estrelas cadentes.


A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.


O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.


Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.


Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.


As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.


Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.


— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.



Manuel da Bandeira

quinta-feira, junho 24, 2004

Ânsia

Procuramos por todo o lado o incondicionado
e não encontramos senão coisas.

Novalis in Fragmentos

Biblioteca

Cuántos libros. Hileras de libros, galerías de libros, perspectivas de livros en este vasto cementerio del pensamiento, donde ya todo es igual, y que el pensamiento muera no importa. Porque también mueren los libros, aunque nadie parezca apercibirse del dolor (quizá abunda por aquí literatura francesa, con sus modas que solo contienem muerte) exhalado por tantos volúmenes corrompiéndose lentamente en sus nichos. Era esto,lo que sus autores esperaban?
Ahí está la inmortalidad para después, en la qual se han resuelto las horas amargas que fueran vida, y la soledad de entonces es idéntica a la de ahora: nada y nadie. Mas un libro debe ser cosa viva, y su lectura revelación maravillada tras de la cual quien leyó ya no és el mismo, o lo és más de como antes lo era. De no ser así el libro, para poco sirve su conocimiento, pues el saber ocupa lugar, tanto que puede desplazar a la inteligencia, como esta biblioteca al campo que aquí había.
Que la lectura no sea contigo, como sí lo és con tantos frequentadores de libros, leer para morir. Sacude de tus manos ese polvo bárbaramente intelectual, y deja esta biblioteca, donde acaso tu pensamiento podrá momificado alojarse un día.
Aún estás a tiempo y l tarde es buena para marchar al río, por aguas nadan cuerpos juveniles más instructivos que muchos libros, incluido entre ellos algun libro tuyo posible. Ah, redimir sobre la tierra, suficiente y completo como un árbol, las horas excesivas de lectura.


Luis Cernuda in Ocnos

Paralelismos

Every piece of music is a rehersal of one's own life,
it comes out of nothing
and disappears into nothing.

Sir Colin Davis

Ode ao silêncio

Vesti o silêncio com o teu rosto.

Na passagem das horas
fiquei menos só;
fiquei mais triste.

Somente ao construir
a tua ausência
é que pude entender de que consiste.

Não me importa o que tu
és ou não és,
mas o que tanto foste
e que persiste,

ornamentando o silêncio.


As palavras te recriam
do fundo irretocavel do passado
como uma silhueta móvel.


Ildásio Tavares

Aprendizagem

Como é lenta esta aprendizagem
que te leva para longe de mim.
Como é fragil e imperceptível
o bafo das tuas recordações,
o calor das tuas palavras fendidas
na funda ferida do espelho.


Diz-me, hóspede meu,
como sobremorrer à ventura
de uma vida
encastoada no pulmão de outra vida.

Se quizeres não me digas agora:
faz frio e esta noite está vazia,
fria e vazia como um cego ás portas
do nada.


Espera até amanhã:
virão pássaros com fogo nos olhos
e gotas de céu estrelado
no pulmao do abandono nocturno.
Posso aperceber-me da altura do seu voo,
sinto já como batem à porta
do arcanjo e dos oásis distantes.


Jaume Pont

Vozes

Não digas o meu nome

Nomear-me
É prostituir o silêncio
e tu estás viva
como um altar profanado
filha de todas as vozes
impossíveis do universo


Não digas o teu nome

Vem
na obscura voz do tacto

Jaume Pont