terça-feira, julho 27, 2004

Escervo desde a mão
absorta
aguardando as esplanadas
de música
de terror e
de morte

Cantaria Beethoveen
o morte de Ofélia?
Esse absoluto e fluctuante
corpo de alba, cabelos na
ondulação da corrente,
gargarejar de um rio
pedregoso,
o olhar das gárgulas
frígidas mirando do alto
da moral rota.
Cantaria,
apunhalando
o vento gélido do norte.
E assim,
até que
a ausente mão,
seguida de outras mãos,
mãos vivas e aqui
sigam a
perseguição impune do indizível.
Desse acto último e sublime,
guiados de
barca em barca,
atracaremos
leves já
na infinitude da aurora.

Gerados,
submersos no silêncio
e no Nada, somos novos
passageiros do breve
e ondulante azul
cósmico.
Ardemos,
desde que se ergue a primeira voz
até ao timído regresso
ao silêncio.

Olho, já ser ver,
essas esplanadas cegas.

A juventude aguarda no umbral
da morte
essa cor tão querida,
essa mão que nunca chega,
esse amor que irremediavelmente
se perde
no torpor inútil de uma madrugada
ou de uma noite
sempre imensa.

É tão vitalmente tarde

Tudo se funde
ocre e carmim.
Respiro essa infância marítima
esse início.

Dá-me um coração puro e lhe darei
amor eterno:

e amei tantos nomes,
nesta hora tão fina e
quase ausente.
Amei todos
por inteiro
com o que me resta de coração.
E
latejando se perde essa música
tão subtil.


Aguardo.
As esplanadas cegaram de
tanta Luz.
Uma aurora mais clara virá algum dia.
Virá esse toque de um rosto amado
que nunca existiu?
E nua
voo de encontro ao dia
e nele encontro o mais efémero
dos repousos,
procuro
por entre sons,
palavras e
ausências.


Mãe,
quando me ensinas o caminho a casa?

Gabriella Marenzio