quinta-feira, outubro 20, 2005

Tinhas sido estrangeiro.




Um dia acordas-te sem te reconhecer. Comia-te o frio e a neve dos longos Invernos do Norte. Evadias-te em perfumes e em canções distantes. Sim. Conhecias alguém que falava como eu. Caminhavas pelas ruas e ninguém te conhecia. A cidade não! Não era tão grande. Eras tu. Perdias-te sucessivamente. Não encontravas o caminho sob os teus passos. Esquecias-te de deitar as sementes. Havia um abrigo onde se cantava sem chuva. E só agora me apercebo como necessitavas de testemunhas. De que te vissem, testemunhassem a tua passagem, que escutassem a tua voz. Sobre ti pousavam olhos incolores. Não importa quais. Um equívoco? digo. Porque pensas que erras, porque pensas que não chega, porque sabes que sim! Sim chega. Sabes o caminho de cor para casa. Não precisaste nunca de sementes, nem de caminhos traçados a giz mas de testemunhas da tua perda. Tinhas sido uma criança. Também tu. E porque houve dias em que te faltaste a ti mesmo, em que todos te falharam, na ausência de ti puseste a tua ferida. A tua ferida aberta na mão de dar. A tua mão veloz e esperta. A tua mão mágica sem sonhos.
Descobri o teu medo.