Pó
Decidi entregar-me ao pó das ruas.
Decidi perder o coraçao,
não mais ter vontade,
não sentir, nem presentir, nem ressentir
sequer tanta impotência.
Decidi não mais voltar,
não mais ter início,
não mais acabar
infinitamente só,
não ser eterna, não ter retorno,
ser um translúcido transtorno,
decidi.
Decidi ser pó na lúcidez
imprevista do vento,
ser invasão, insubmissão,
falsa declaração de princípios,
imoralmente tomar de assalto
olhos, narizes,ouvidos, garagantas,
entrar pela roupa, impreganar cada corpo,
colar-me á pele dos homens,
aos cabelos as mulheres.
Decidi,
assim de repente,
para não mais ter de decidir.