Estação
Estou na estação. Num ir e vir perpétuo.
Um eterno retorno, finito, limitado,
quotidiano.
Disforme, deslizo por entre os líquidos relógios
em que a memória persiste.
A realidade escorre por onde
o meu pé se pousa,
estica-se e molda-se
nesta realidade aquosa,
vital.
Um ruído. Sombras vagas.
Um incómodo fino,
acutilante, imenso:
eis a realidade.
Separa-nos uma grande névoa.
E, sem que ela exista,
infiltra-se ocasionalmente
olhos adentro.
Cinza,
como um cimento aéreo
que se trespassa e respira.
Cinza húmida.
Névoa fria,
como a eterna manhã
da solidão humana.
E a memória persiste
escorrendo, sugando o tempo.
Tempo passado,
o tempo da rejeição.
Tempo que retiro,
Tempo presente.
Tempo impossível,
Tempo futuro.
Tempo que mato
assim.
O Tempo em que a ausência
de mim em mim
ultrapassa toda a consiência,
todo o cosmos intemporal ritmado,
O sempiterno pulsar compassado
das esferas harmonizadas.
O ruído aumenta:
o universo expande ou
retrai-se?
quem sabe onde vamos
rodopiando tempo fora...
E no entanto,
só esta estação de comboios parece ser real,
local de um retorno quase eterno.
De devir quotidiano
com hora marcada.
Chega o comboio.
Por Gabriella Marenzio,
Estaçao de comboios dia 6 de Novembro de 1998
Um eterno retorno, finito, limitado,
quotidiano.
Disforme, deslizo por entre os líquidos relógios
em que a memória persiste.
A realidade escorre por onde
o meu pé se pousa,
estica-se e molda-se
nesta realidade aquosa,
vital.
Um ruído. Sombras vagas.
Um incómodo fino,
acutilante, imenso:
eis a realidade.
Separa-nos uma grande névoa.
E, sem que ela exista,
infiltra-se ocasionalmente
olhos adentro.
Cinza,
como um cimento aéreo
que se trespassa e respira.
Cinza húmida.
Névoa fria,
como a eterna manhã
da solidão humana.
E a memória persiste
escorrendo, sugando o tempo.
Tempo passado,
o tempo da rejeição.
Tempo que retiro,
Tempo presente.
Tempo impossível,
Tempo futuro.
Tempo que mato
assim.
O Tempo em que a ausência
de mim em mim
ultrapassa toda a consiência,
todo o cosmos intemporal ritmado,
O sempiterno pulsar compassado
das esferas harmonizadas.
O ruído aumenta:
o universo expande ou
retrai-se?
quem sabe onde vamos
rodopiando tempo fora...
E no entanto,
só esta estação de comboios parece ser real,
local de um retorno quase eterno.
De devir quotidiano
com hora marcada.
Chega o comboio.
Por Gabriella Marenzio,
Estaçao de comboios dia 6 de Novembro de 1998
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