sábado, junho 26, 2004

Serenidade

A minha alma
na ponta
é serena.


No centro
inflama-se,
num inferno de pássaros
invertebrados,
sem asas.

Sentimentos
que me pensam e são
até aos olhos
e me rasgam os lábios
em tímidos coagulos verbais.

Um manto de retalhos orgânicos
cobre-me
a ponta mais fria
da alma.

À insípida luz
do olho terreno
a névoa torna-se rainha
de vastos impérios
cromáticos.

( E então vejo-te)


E vejo-te
a mão calejada
na nuca ( quente e macia
do teu intenso estio cerebral)

Se levantares a cabeça
verei como o mundo se estende
para além da tua boca.


Em ti a alba ergue-se
plena
sobre o marítimo fervor.


Se me deixareres entrar
confirmarei a doce textura
de que és feito.
Artérias e veias
pulsando esse cálido licor
que te torna
vivo.
E subirei ao cimo
do ti
na ponta mais fina
da minha bailarina.
Rodopiando cérebro adentro
etérea dança
e de pensamento em pensamento
saber-te-ei por inteiro.

E viverei em ti
de dentro para fora.


Em troca prometerás
reservar o escárnio
ao ver-me como sou
absurda e pequena

é que a minha alma
na ponta, é serena
mas no centro...